Entenda como a diabetes afeta a sua visão podendo levar a cegueira.

Em todos os dias que eu atendo consultório, não tem ao menos um deles que eu não veja um paciente cego por retinopatia diabética. Por esse motivo, é uma das doenças que mais invisto meu tempo em informações que possam contribuir para prevenção para que o paciente não chegue a uma perda grave de visão. Se você é diabético ou tem alguém próximo com a doença, vamos juntos entender o que é a doença e como não perder a visão pra ela.

O que é a retinopatia diabética (RD)?

Você está lá, com seu diagnóstico de diabetes, tomando seu remedinho, com a dieta mais ou menos regrada, fazendo atividade física quando tem um tempo livre. Os dias se passam e nessa brincadeira os anos se passam sem que o valor do açúcar no sangue (que aqui vamos chamar de glicemia) seja de fato controlado. Episódios esporádicos, de glicemia de 200mg/dl, 300 mg/dl, 400 mg/dl, 500 mg/dl, acontecendo, mas tudo “sob controle”, voltando a normalidade após aplicação de insulina no hospital. Até que sua visão começa a ficar ruim e ir piorando dia após dia, você pesquisa no google e acha que pode ser o óculos ou uma catarata e indo ao oftalmologista e fazendo uma consulta completa e descobre que a causa da baixa visão é causada pelo descontrole de longa da diabetes, tendo no fundo de olho, sinais evidentes da doença, em termos médicos chamada de retinopatia diabética. Isso ocorre quando os níveis elevados de açúcar no sangue causam danos aos vasos sanguíneos da retina. Esses vasos sanguíneos podem inchar e vazar. Ou podem fechar, impedindo a passagem do sangue. Às vezes, novos vasos sanguíneos anormais crescem na retina (Boyd, 2021). Aí é que começa a corrida contra o tempo para tentar reverter ou minimizar essa perda de visão.
Ressalto que alguns fatores tem risco aumentado do desenvolvimento da doença: hipertensão (pressão alta), uso de insulina e tempo de doença.

Eu vou cegar por causa da diabetes?

Calma, querido paciente, respire fundo, me ouça com toda atenção, que essa mensagem agora talvez seja a mais importante de todo o site. Cegar ou ter uma perda de visão irreversível vai depender do estágio em que a retinopatia diabética se encontrar e do que você vai fazer a partir daí. A grosso modo, podemos dividi-la em dois grupos a não proliferativa e a proliferativa, vou explicar melhor.

A não proliferativa seria a forma “menos grave” e é dividida na sua forma, leve, moderada e grave. Nesse estágio, quanto menor a classificação, melhor. Aqui é a hora perfeita para tratar.

A evolução dessa forma seria a proliferativa que é a grande causadora de cegueira entre os diabéticos, a principal característica dela é o surgimento de neovasos (figura 1), que são vasos sanguíneos que não existiam, mas que passam a existir na tentativa desesperada de organismo levar oxigênio para as áreas da retina que estão em sofrimento, “morrendo sufocadas”. Infelizmente, esses vasos são muito frágeis e doentes, ao invés de ajudar, fazem é piorar ainda mais o problema. As complicações decorrentes deles são: sangramento intraocular (eles rompem e o sangue contidos neles vão para o vítreo, que é o gel do olho), surgimento de proliferação fibrovascular e em consequência disso o descolamento tracional de retina, que é a complicação mais dramática e grave, levando mesmo a cegueira.

Apesar de não fazer parte da classificação em si da RD, temos que falar de outra importante causa de baixa de visão que é o edema macular diabético. O paciente pode ter uma RD não proliferativa leve e mesmo assim não enxergar tão bem em virtude do acúmulo de líquido na região macular, que é parte mais nobre na visão.

Retina

Figura1: presença de neovasos no disco óptico: sãos esses vasos bem finos

Abaixo temos duas figuras de um exame chamado Tomografia de Coerência Óptica (OCT). Na primeira (figura 2) temos uma retina normal, sem edema nenhum. Na segunda (figura 3) , temos uma mácula com edema macular. Percebeu que a “curva” foi perdida? Que a retina tá mais encharcada?

fonte Kansky, 8ª ed

Figura 2: fonte Kansky, 8ª ed

Kansky, 8ª ed

Figura 3: Kansky, 8ª ed

Como é o tratamento da retinopatia diabética?

Depende. Como vimos, o tratamento específico do olho vai depender do estágio da doença. Você concorda comigo que uma doença mais agressiva requer um tratamento também mais agressivo.
Podemos desde acompanhar esse paciente mais de perto e orientar controle glicêmico rigoroso da glicemia até fazer panfotocoagulaçãoinjeção intravítrea de anti-VEGF ou corticoide e cirurgia nos casos de hemorragia vítrea ou de descolamento de retina.
Todavia, é importante ressaltar que não adianta a gente tratar o olho e o corpo está com glicemia lá nas alturas, senão enxugaremos gelo. NÃO adianta. Justamente por isso, que frequentemente o oftalmologista solicita exames laboratoriais, pois sinal de doença no olho é um alerta vermelho para acometimento renal pela diabetes. Então não estranhe caso seja encaminhado para o endocrinologista ou o nefrologista. O corpo humano é um só e todas as especialidades da medicina fazem o seu melhor para garantir o perfeito funcionamento do organismo.
Lembrete importante:
RD não se resolve com óculos, colírio ou fórmula mágica.

Embora a diabetes seja uma doença ainda sem cura, juntos podemos tentar reverter as consequências da doença. O ideal é que todo ano paciente com a doença, ainda sem RD, seja examinado com avaliação oftalmológica completa, não deixando nunca de fazer o exame de fundo de olho, idealmente. No casos dos pacientes com a doença já instalada, isso vai variar de acordo com cada caso. Espero ter ajudado com as informações.